De forma geral, todo processo produtivo é dimensionado de acordo com a capacidade de seus recursos gargalos, que geralmente são equipamentos que exigem maiores patamares de investimento. De maneira análoga, uma operação portuária deve funcionar da mesma forma, na qual quem dita a capacidade operacional são os equipamentos de movimentação de contêineres (portainers, guindastes MHCs, etc).
Logo, toda a operação de retaguarda de um porto deve ser dimensionada de acordo com a capacidade da sua operação de costado.
A função primordial da retaguarda é prover as condições necessárias para maximizar a utilização dos recursos do costado, e com isto, aumentar o MPH (movimentos por hora) da operação. Além de ser o principal indicador de eficiência operacional, o MPH também serve como ferramenta comercial para atrair embarcadores, agentes de carga e freight forwarders, que buscam minimizar o tempo do navio parado no porto e evitar custos adicionais de demurrage. Portanto, para aumentar a eficiência de uma operação portuária é preciso entender mais a fundo quais fatores impactam o MPH. De forma geral, tais fatores podem ser divididos em dois tipos: internos e externos. Enquanto no primeiro grupo estão aqueles fatores diretamente ligados com a operação do porto, nos quais é possível identificar pontos de melhoria para uma atuação direta, no segundo grupo estão aqueles fatores indiretos que não possibilitam uma atuação mais efetiva.
Fatores externos
Os fatores externos são problemas provenientes de causas naturais ou fatores não controláveis, nos quais a operação não possui uma forma de atuação direta. Esse tipo de problema ou risco deve ser mapeado a fim de encontrar oportunidade para minimizar seus impactos. Dentre eles, pode-se citar:
Condições meteorológicas: dependendo da criticidade das condições climáticas – vento, raios e chuva – a atividade deverá ser interrompida por motivos de segurança operacional.
Maré: portos que não possuem um calado profundo precisam avaliar as tábuas de marés para verificar se o navio terá condição de atracar ou desatracar do berço naquele período.
Tampas: O MPH pode ser reduzido conforme a quantidade de tampas do navio e a distribuição dos contêineres ao longo da embarcação.
Cargas externas: muitas vezes, mesmo com o embarque do navio praticamente finalizado, o mesmo precisa ficar parado durante horas, ou até mesmo durante dias, aguardando a chegada de uma carga externa.
Fatores internos
Os fatores internos são problemas de origem operacional, que precisam ser mensurados e monitorados para obter-se uma base de dados confiável que suporte ações concretas de melhoria. Dentre esses fatores, pode-se citar:
Obstrução de fluxos internos: aumenta o tempo de chegada do veículo ao costado e, consequentemente, amplia o tempo de ciclo do carrossel interno, deixando o portainer ou MHC ocioso
Troca de turno dos funcionários: o MPH costuma cair drasticamente, podendo chegar a menos de 50% de sua capacidade durante os intervalos entre a saída do turno atual e a entrada do próximo turno
Defeitos de equipamentos: paradas inesperadas do portainer ou do MHC em função da falta de um plano de manutenção preventiva.
Produtividade dos Operadores de Portainers e Guindasteiros: a variação da habilidade de cada operador pode gerar uma oscilação de até 40% na produtividade das operações que trabalham com equipamentos mais antigos (MHCs).
O que fazer para aumentar a eficiência de uma operação portuária?
Dado que os fatores externos geralmente não nos possibilitam uma forma de atuação direta, deve-se focar os esforços na melhoria dos fatores internos. Algumas ações podem ser implementadas para ajudar no aumento da eficiência de acordo com o fator interno que está impactando a operação:
Desobstrução dos fluxos internos:
1. Concentração excessiva de cargas em uma determinada área do terminal
Neste caso, a área de planejamento deve distribuir de forma equilibrada as cargas que vão embarcar e desembarcar do navio na área de retaguarda, de forma a evitar uma concentração de contêineres, veículos, RTGs e reach stackers operando simultaneamente em um único local.
2. Quantidade de veículos em excesso dentro do terminal
A área de planejamento deve controlar e manter um equilíbrio entre entradas e saídas de veículos no terminal de forma a não extrapolar a capacidade operacional do mesmo, evitando, portanto, a obstrução das vias. Assim, é preciso conhecer os limites de capacidade e ter um bom controle dos processos de gate in e gate out, cadenciando entradas, saídas e utilizando gates reversíveis quando possível.
3. Processos de gate ineficientes
Mapear o processo de gate in e gate out para identificar oportunidades de automatização e aumento de eficiência destas atividades. Verificar quais informações podem ser coletadas previamente, de forma a minimizar o tempo de estadia do veículo no gate.
Minimização do tempo de troca de turno dos funcionários
A melhor forma de minimizar o impacto da troca de turno no MPH é fazer a rendição dos funcionários nos próprios equipamentos, de forma que a operação não pare, assim como seus recursos mais preciosos. Para viabilizar este procedimento, uma boa prática é instalar o sistema de ponto eletrônico no próprio equipamento.
Diminuição do tempo de parada dos equipamentos
É fundamental realizar um bom planejamento de manutenção preventiva de forma a diminuir a ocorrência das manutenções corretivas. Este planejamento deve ser realizado de forma integrada entre a manutenção e a operação, combinando previamente os períodos de parada de cada equipamento com as necessidades da operação.
Outro ponto importante a se monitorar é o tempo de reparo dos equipamentos. Muitas vezes é melhor realizar a troca imediata do equipamento (caso tenha equipamento sobressalente no estoque), ao invés de tentar realizar o reparo do mesmo no local. Um bom exemplo é o spreader, equipamento que necessita recorrentemente de manutenção (devido ao uso de alto impacto), mas que em diversas situações o tempo de troca do mesmo é inferior ao tempo de reparo.
Estímulo da competição saudável entre os operadores
Monitorar constantemente a performance dos operadores e divulgar os seus rankings de produtividade são formas de promover uma disputa saudável entre eles. O simples fato de saber que estão sendo monitorados e comparados entre si contribui, consideravelmente, para o aumento da performance. Outra alternativa é implementar um modelo de bonificação ou remuneração variável para premiar os operadores com o melhor desempenho. Muitas vezes uma simples recompensa pode trazer um enorme retorno para a operação.
Saiba mais: glossário
Portainer: equipamento que realiza as operações de embarque e desembarque de contêineres em um navio. Composto por uma lança em balanço equipada com um trilho que guia o volume.
MHC: guindaste móvel portuário (Mobile Harbour Crane), constituído de dispositivo de transporte com rodas para livre movimentação em áreas de porto, sendo muito versáteis. Possui função similar ao Portainer, porém sua produtividade é menor.
RTG: guindaste de pórtico sobre pneus (Rubber Tyre Gantry), utilizado para a movimentação de contêineres e cargas suspensas no terminal. Através de um sistema de cabos de içamento, é capaz de deslocar qualquer contêiner, mesmo que ele esteja no meio da pilha, sem a necessidade de movimentar ou transportar outras unidades.
Reach Stacker: equipamento utilizado na movimentação de contêineres em curtas distâncias, permitindo empilhamento de até 5 contêineres na armazenagem.
Freight Forwarder: pessoa física ou jurídica que providencia o transporte marítimo de cargas de terceiros. Atua, geralmente, por conta e ordem do embarcador.
Apesar de não exaustivas, dada a particularidade de cada operação, essas ações atuam sobre pontos comumente encontrados na gestão do dia a dia de operações portuárias, e servem ainda como insights para apoiar a identificação de novas oportunidades de melhoria.
Bruno Denardin é consultor da Visagio com atuação em projetos de Logística & Supply Chain, Transformação Organizacional, Orçamento Base Zero e Redução de Despesas, Otimização de Processos e Aumento de Eficiência Operacional.